domingo, 8 de abril de 2012

A Jaula de Concreto

De dentro da jaula feita de concreto e vidro
Sobrevive um sonho
Apagado e frígido
A chuva começa a cair
E o olhar de desilusão
Faz o carrasco se sentir amedrontado
' - Coloque psicofármaco no café das
     marionetes'
Um sorriso químico
Uma cena banal
Você nasce, trabalha e morre
Você esquece que o sofrimento é uma condição
Um tropeço na calçada da felicidade
E pensa que a felicidade é mera casualidade
Você nasceu pra ser feliz
Você nasceu dono do próprio nariz
Mas a palmada do médico
Te carimbou que nem gado
Agora você tem dono
E aos 5 anos será mandado para o campo de trabalho
Para ser preparado
Aprendendo a matar sonhos
Soldado da industria e do progresso
Prisioneiro da jaula de concreto
Teu dinheiro sumiu
Tua vida foi engolida
E agora com 75 anos
Teu corpo não permite que suba em árvores
O gosto não permite que sorria sinceramente
Teus olhos são apagados
Mas por favor, guarde para sempre a lembrança
De como a vida já foi colorida
De como por trás do filtro preto e branco
Realmente existe alegria
Eles podem te enganar
Mas não pra sempre

Medo

Medo do escuro
Medo de ir pra escola
Medo de perder no futebol
Medo de não conseguir pagar as contas
Medo de acordar
Medo de não ter mais gelo no mercado
Medo de não ter o que comer
Medo de não ter onde estacionar
Medo de que esteja muito calor
Medo de sair do banho no inverno
Medo de gastar onde não devia
Medo de perder o ônibus
Medo de ser atropelado
Medo de o carro apagar na esquina
Medo de o presidente se reeleger
Cachorro tem medo da carrocinha
Medo de faltar água
Medo de desligar a tv
Medo de mentir
Medo de que mintam pra mim
Medo de ser idiota
Medo da idiotice
Medo de não poder controlar
O pensamento corre solto
Medo de ter que acordar
Sem ter dormido uma noite inteira
E de medo a gente pensa que entende
Mas não sabe que o medo é tudo que se tem
Que é muito fácil
Ter medo de ter medo
De tudo.

terça-feira, 13 de março de 2012

Ouro do papa

O papa comeu carne humana no almoço
A rainha da Inglaterra quase morreu de desgosto
Crianças africanas servidas no jantar
Quem poderá ascender a chama do forno?
No vaticano não entra comida oriental
O esperma do papa é de ouro
É o que diz quando estupra
Os seus coroinhas
'Não se preocupem crianças é o esperma de deus'
E lá de cima tem alguém sempre a olhar
Alguém que se diverte com o estupro do mundo
Se deus fez o homem a sua imagem e semelhança
Pobre deus, não vale 5 centavos
Quem sabe é por isso
Que quando vê toda desgraça se esconde
Quem sabe é por isso que seus representantes precisem
De tanto ouro
Os eunucos divinos
Não conseguem ter ereção
Quando vêem as mulheres
Se escondem
Os eunucos divinos
Só conseguem com a infância
Cheirados, imaculados e loucos
Os homossexuais divinos
São castrados de moral
E seus filhos
Morrem de fome

Na Disneylândia também tem morte

Na cracolândia nasceu
Um bebê viciado
Feio, pobre e morto
Na Disneylândia Mickey Mouse morreu
De tanto sorrir e comer Mc Donald's
E do alto do morro alguém gritou
Enquanto a tortura provocava dor
E de dentro da barriga o barulho ecôou
Enquanto o cachorro da madame
Dorme, larda e come
Industrializaram os teus sentimentos
Te estupraram, te espancaram
Te coroaram
E agora ficaram todos seres iguais
Maltratados e comendo embaixo do tormento
Embaixo da ponte vivem seres surreais
Se alimentam de estrume, de lixo e de morte
Nos teus sonhos o mundo é desigual
Abre os olhos e ve
Que esse é o momento
De partir
De inflar
De insurgir
De inflamar
De todos os teus sonhos
Tu realizar
Ta na hora de morrer
Quem já viveu de mais
Ta na hora de sofrer
Quem roubou teu brilho
Ta na hora de acabar
Com toda palhaçada
Ta na hora de transformar
O palácio verde em morada
E dormir

Vazio sem nome

Estava ali
E de repente sumiu
Por que um dia surgiu,
Se a única intenção sempre foi de abandonar?
Mas o que foi que me abandonou?
O que foi que de uma hora pra outra
Faltou?
Quem já teve tudo
Amarga um nada
Desesperado e de solidão
Um nada cheio de vazio
Um vazio irretocável
Inalcançável
Que de certa forma
Até faz sonhar
A produção aumenta
Mas nunca contenta
Porque algo que se amou algum dia
Algo de dentro
De dentro pra dentro
De dentro pra si
Sumiu
E nem avisou
E nem deixou bilhete
E nem reparou que precisava voltar
Vazio sem nome
Se esconde
Quem é tu?
De quem eu não posso sentir saudades
Pois não sei nem de que cor é
Me roubou o gosto
Escondeu o rosto
Se enforcou no ar

Balada da dependência

É tão real que desespera
É tão longe que angustia
Nem sempre é bom chegar em casa
E encontrar a casa vazia
As vezes é tudo tão de repente
Tão deprimente
Que tem gente que chora
Eles foram todos embora
E você sobrou
Mas e o que sobrou dentro de você?
Acho que só água
Acho que nada
Acho que um pouco de sol
Ou sal?
Ou uma mordaça?
E agora ela não ama mais ninguém
E bate na porta
E escuta o som que finge cantar
Só uma ilusão
Pateticamente sorri
Sorriso de classe
Sorriso de choro
De dor
Ninguém mais te ama

Bêbado e sem sorte

A quem eu quero enganar?
Eu sou um bêbado
Um perdedor
Perco a vida
Ganho dor
Dor de cabeça e de alma
Por que beber
Me transforma em um resto
Apaga tudo
Que um dia eu fui
Que eu nunca vou ser
Eu não quero mais
Ser um bêbado
Eu não quero mais
Vomitar a esperança
Assim, o espaço que um dia foi da criança
Vai se preencher de amargura
E dor
Dor de cabeça
Dor de esqueça
A vida é muito curta
Pra continuar
A viver ou beber?
Ou um ou outro
Ou um ou a morte
Que quem sabe com sorte
Me poupe da cirrose
Eu não nasci com sorte
Eu nasci pra morrer
Mas não precisa ser de tanto beber
Que difícil que é escolher
Um caminho tão óbvio
Que chega no velório
Do melhor amigo
Meu fígado cresceu contigo
Mas não precisa morrer de dor