quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Madame Miséria

A madame saiu para passear
Desviou do lixo, dos ratos e tomou um gole de cachaça
Atravessou a transversal de versos fracos
Dançou na chuva ácida como se fosse entornar
O suco leve e amargo da amargura vaga

A madame fechou os olhos na avenida
Contornou a fome, a ignorância e a partilha
Engoliu a lágrima que não podia esconder
Esqueceu que ela, como todos
De fome e sede também podia morrer

A madame queimou os livros da biblioteca
Rasgou jornal, rasgou papel e derrubou as arvores
Negou vida, nascimento e vacila
Ao estender a mão para o mendigo da esquina
Da sarjeta, da avareza e da avaria

A madame já saiu para almoçar
E como fome dos outros a gente não sente
Ela não guardou os restos para o jantar
O flagelado catou seu alimento desgraçado
E no lixo da madame com o abutre disputou
Caviar, remédio para o fígado e petit gateau

Um comentário:

  1. Mah óh nego-beiço - és uma máquina de escrever versos feitos, desfeitos e desferidos...
    (:

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